segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Festival de Berlim 2018 - críticas: "3 Days in Quiberon"

(3 Tage in Quiberon, de Emily Atef)
Marie Bäumer é Romy Schneider em "3 Days in Quiberon"

Até que ponto a semelhança física entre um ator e o personagem que ele interpreta pode ser decisiva na nossa apreciação daquela performance? A atriz Marie Bäumer traz esse questionamento à tona o tempo todo em "3 Days in Quiberon", da cineasta alemã Emily Atef. Em alguns ângulos ela não é parecida, mas praticamente idêntica à atriz Romy Schneider, que ela interpreta, já em seus últimos anos de vida, quando dominada pelo alcoolismo e pela depressão.

Mas enquanto o filme prossegue, Bäumer consegue mostrar que não é apenas um rosto semelhante ao de Romy, mas que é capaz de gerar em torno de si um magnetismo e um carisma muito próximos ao da atriz austríaca. Dá à personagem uma enorme intensidade ao viver e ao amar a vida (mas só em alguns momentos, porque em outros, Romy fazia justamente o oposto, sofrendo terrivelmente quando deprimida). A atuação de Bäumer é precisa e atraente em ambos os instantes; sua performance transcende semelhanças físicas.

O longa se estrutura sobre três dias em 1981, quando Romy se isolou em um spa em um balneário francês para descansar e se desintoxicar. Mas ao receber a visita de uma amiga de infância de ao aceitar dar uma entrevista a um jornalista alemão (e posar para fotos para um antigo amigo), Romy abandona a disciplina e bebe como nunca. Fala muita besteira, age como não deveria, mas se abre de tal forma aos repórteres que, mesmo eles tendo uma tendência ao sensacionalismo, preferem alertar à entrevistada dos riscos que ela corre ao ser tão transparente no que fala sobre si.

O roteiro é falho e a direção se perde diversas vezes (perto do fim, o longa parece que vai acabar mais de uma vez, mas a trama é retomada sempre em algum instante onde não deveria; é um script meio mal escrito, na verdade). Mas como retrato de uma pessoa altamente frágil, vulnerável e talvez infantilizada, o filme é bem eficaz. O interesse excessivo com o qual a Romy de Bäumer se arremessa sobre as pessoas que mal acaba de conhecer se revela um desesperado anseio por uma fuga de si. 

Mas a despeito de uma mulher vitimada por uma melancolia extrema, a Romy Schneider que o longa apresenta parece também o fruto sobretudo de um excessivo "paparicamento" de quem a rodeava. As pessoas sempre pegavam leve demais com ela (por pena e por não resistirem ao charme da atriz) e perdoavam seus erros com excessiva rapidez. Se fossem um pouco mais rígidas, talvez Romy tivesse aprendido a se controlar um pouco mais... Ou não: a natureza dela talvez fosse dar a palavra final, de qualquer maneira. Nunca ninguém vai saber ao certo.

Chegou um momento, porém, em que a saúde de Romy não a perdoou – ela morreu muito jovem e ainda muito bela. A ultima imagem do filme é um frame do rosto de Bäumer. Obviamente em um ângulo muito parecido com o da atriz que interpreta. É um fim tocante e triste, que dá a impressão de que o filme é melhor do que de fato é. Eis o charme de Romy, mais uma vez, seduzindo o público a ponto de perdoar deslizes ao seu redor.

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