Drama esotérico no meio da floresta, sobre
dois exploradores caucasianos que, em épocas distintas, embrenham na Amazônia
colombiana atrás de uma planta raríssima e de poderes alucinógenos. O filme é
ambicioso e, nos momentos mais inspirados, lembra “Apocalipse Now”, “Tabu” (de
Miguel Gomes) e, em menor extensão, “Fitzcarraldo”. A narrativa é poderosa, mas
complicada: vemos a viagem de um explorador alemão em 1909 paralelamente com a
de um norte-americano, algumas décadas mais tarde (o filme não dá indicações muito precisas para saber exatamente qual). As duas narrativas se alternam sem muita explicação ou um espelhamento
mais claro.
Mas a mensagem é evidente desde o comecinho: o filme é uma
defesa da preservação e do respeito à cultura dos povos indígenas, continuamente
massacrada pelo homem branco desde que ele pisou nas Américas pela primeira
vez. Mas isso não significa que o diretor, o colombiano Ciro Guerra, evite as
complexidades inerentes ao confronto entre culturas. Por exemplo: em uma cena,
o explorador alemão quer impedir que os índios aprendam a usar sua bússola por
medo de que, assim, logo se esqueçam de suas próprias técnicas seculares de
orientação. Mas é o indígena mais resistente à colonização europeia quem lhe retruca:
“Não se pode proibir alguém de aprender”. Preservar uma cultura não quer
necessariamente dizer permanecer completamente nela fechada.
Os heróis do filme (perdoem-me pelo rompante binarista da
análise) são os indígenas, sobretudo os espiritualmente desenvolvidos – os xamãs
–, que orientam e dão lições de vida aos exploradores brancos (até zombam de
alguns de seus comportamentos que, na mata, são totalmente ridículos). “Nunca
mais fui o mesmo homem”, relata o alemão em seus escritos, referindo-se ao seu aprendizado
na selva. É saudável ver esse tipo de inversão, ao menos na arte (já que, na
vida, é praticamente inexiste). Mas fato é que o partidarismo de Guerra se
torna por vezes cansativo – implicando, não raro, em um etnocentrismo autóctone
um tanto ingênuo.
O cineasta é um excelente criador de imagens. Bem, com uma
floresta exuberante como a Amazônia, difícil seria não captar belos quadros, mas
a expressividade das imagens dele também se dá quando ele inclui a ação humana.
Sobretudo quando os homens entram em conflito – há uma horripilante cena em que
indígenas se martirizam com açoites diante de outro índio morto a flechadas. O
filme é todo em um deslumbrante preto e branco, menos em breves sequências
alucinógenas, quando imagens abstratas ganham cores berrantes, espetaculares – são
a criação de um talentoso artista visual.
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